Considero esse um daqueles casos em que a parte não faz valer o todo. Claro que é a minha opinião, não invalidando qualquer experiência positiva que você tirou da leitura da obra, e possa ser que por você ter experimentado leituras diferentes das minhas ao longo da vida nossas visões se tornem incompatíveis sob uma mesma matéria, embora, nesse caso, nem tanto, dado que ambos identificamos o balbucio do autor em confinar a história em escatologia infantilóide barata. Só que, de certa forma, tu acha que existem alguns elementos aproveitáveis na história, e eu acho tudo deplorável. O conceito que o autor explana no curso da história só faz extenuar minha percepção em favor de um sentimento de apodrecimento ao longo da leitura, o que faz a ideia de sequer continuar a ler nauseante pra mim, embora tenha continuado até concluir, pra ver se a história ia terminar no fosso que já dava indicações. Mas de boa, as duas visões podem coexistir sem se excluírem mutuamente, porque na real, o que nós falamos aqui diz mais sobre nós mesmos do que sobre o que estamos falando, e a própria obra do Ennis diz mais sobre ele do que sobre o que ele quer retratar (o que quer que isso signifique, kkkkk). A propósito, fui de certa forma grosseiro com você no tópico do Tiago outro dia, peço desculpas. Às vezes – quase sempre – sou meio otário mesmo. Tenho que admitir que nunca fui muito entusiasta da obra do Ennis, embora continue importando os quadrinhos dele (a grande maioria eu baixo ou leio online mesmo), mais por sanha colecionista que necessariamente qualquer apreço real pela leitura (estou começando a ler mangá por influencia da galera daqui, vou acabar tendo que esgotar parte do meu patrimônio pra alimentar mais um vicio). Mas tenho em consideração alguns aspectos da escrita do Ennis como alguns dos mais sublimes desse formato na ficção. Geralmente, o que ele escreve de melhor converge pra temática de guerra. Mesmo obras que não se relacionam diretamente com o tema vai ter algum apelo periférico na questão (curiosamente, essas tendem a ser melhores que as histórias dele ambientadas diretamente em cenários de guerra). Minhas favoritas são Preacher, Trails of Tears (basicamente Ghost Rider: Westernized, do caralho), Unknown Soldier, todo o trabalho dele em Hellblazer, a série do Punisher na Marvel Knights (tem alguns arcos muito clássicos), Hitman, entre outros. Mas em minha opinião, volto a dizer, o melhor tratamento que ele já deu pra um personagem, e a obra que paira como a minha favorita absoluta, é Punisher: Max. De muito longe a melhor coisa que ele já fez, emendando tanto a série regular quanto Prequels, continuidades e Spin-offs (a do Fury pra esse universo é a melhor coisa dele que eu já li). Não curti tanto Platoon e Soviet. A primeira tenta reproduzir sem muito sucesso a qualidade de Fury: My War Gone By (até traz de volta alguns personagens em comum do arco do Castle na hq do Fury), a ultima rememora muito a 303 (inclusive, ambas são ilustradas pelo mesmo cara), que eu acho muito ruim e mal elaborada, embora não necessariamente mal produzida. A propósito, a série regular continua após a saída do Ennis do selo, mas dão continuidade com outros autores, que fazem de tudo pra detratar a riqueza da obra pregressa com merda multicolorida jogada nos painéis. O Jason Aaron chega ao ponto de tentar adaptar personagens do universo mainstream – Bullseye, Elektra, Kingpin – pra essa realidade, e o resultado não podia ser outro se não uma das maiores porcarias que eu já li. É uma grande merda vomitada, mal escrita, mal conceituada, e tremendamente mal elaborada. E não é só o Aaron não, TODOS os autores que passaram pela série depois do Ennis foram horríveis. Toda a densidade da escrita do que foi o melhor trabalho do cara desfeito em alguns arcos por escritores de baixo calão. Uma pena que não terminaram quando o Ennis saiu, o ultimo painel teria sido um ótimo encerramento.